De todas as coisas que eu
agradeço em minha vida, as decepções amorosas estão no topo da lista.
Idealizar as coisas, pessoas e
sentimentos é o meio que buscamos de não encararmos a realidade dos fatos, e
acaba, de certa forma, se tornando mais perigoso do que possamos imaginar,
visto que quando as nossas expectativas não são correspondidas, nos frustamos,
sofremos e, muitas vezes, nos culpamos por uma coisa, que nunca existiu, ter
dado errado. Pois já dizia o poeta (que amo) Augusto dos Anjos sobre esse amor
idealizado: “Parece muito doce aquela cana. Descasco-a, provo-a, chupo-a...
ilusão treda! O amor, poeta, é como a cana azeda, A toda a boca que o não prova
engana.”
Às vezes, ao conversar com
algumas pessoas sobre esse assunto, deparo-me com o repúdio de alguns pelo fato
delas acharem que sou pessimista ou até que não acredito no amor, e realmente
não acredito, pelo menos, nesse amor romântico idealizado que nos induzem a crer
desde que nascemos e que, muitas vezes, passamos a vida procurando sem sucesso,
e então, vemos que nossa vida “não valeu a pena” ou, pelo menos, não fomos
bons/boas o bastante para aquela “pessoa perfeita” caísse de amores pela gente
e vivesse o resto de sua vida em nossa função.
Sabe o que acredito? Acredito no
amor próprio e no amor por escolha.
Agradeço as minhas decepções
amorosas por terem me mostrado que a culpa não foi minha, nem deles, não foi de
ninguém. Apenas acabou. Relacionamentos começam e terminam, e isso é normal.
Isso me fez ver que a pessoa que eu mais amo no mundo sou eu, e se eu estiver
em um relacionamento é porque faz bem, faz feliz a outra pessoa e a mim, e não
por estar fantasiando um romance épico.
Quando você se ama verdadeiramente,
você é capaz de reconhecer a suas falhas, ver que você não é perfeita/o, que ninguém
é perfeito/a. Por fim, essa idealização a respeito da “pessoa perfeita” cai por
terra e, sem máscaras, sem fantasias, sem falsidade, podemos olhar para a
pessoa que está do nosso lado e dizer: “Eu quero você com seus defeitos, com
suas qualidades, quero você de verdade”.
E se acabar, ótimo, pelo menos você
viveu alguma coisa.
Lucrécia Dias
poema de Augusto dos Anjos disponível em: http://sanderlei.com.br/PT/Poesia/Augusto-dos-Anjos/Augusto-dos-Anjos-Eu-e-Outras-Poesias-037