quarta-feira, 5 de setembro de 2018

A INSUFICIÊNCIA DO REAL


         Acho que não é mais nenhuma novidade detectar que as redes sociais, hoje, movem as pessoas a fazerem coisas que, muito provavelmente, não fariam se não existissem.

       Nesse mundo maravilhoso, todo mundo é feliz, todo mundo é amado, todo mundo tem dinheiro, entre todas as coisas que fazem a vida de uma pessoa “valer apena”. Assim, acabam fazendo com o que o seu mundo pareça insignificante e/ou tudo que tem seja insuficiente diante de “tudo” dos outros.

         Toda essa felicidade alheia pode causar, e causa, um desprezo em relação a si e aos que o cerca. Ao seguir uma pessoa que tem uma vida perfeita, com amigos perfeitos, relacionamentos perfeitos e famílias perfeitas, o seguidor pode se sentir um tanto que incapaz de ter/fazer todas essas coisas, apesar, de muitas vezes, tentar publicar fotos ou status que mostram o contrário.

         Há quem considere que todos esses sentimentos causados pelas redes sociais sejam, de certa forma, um incentivo para que o internauta passe a enxergar a vida “medíocre” que leva, e assim, passe a investir mais o seu tempo e dinheiro em outras coisas, como viagens, roupas, sapatos, amizades e relacionamentos, para que a sua vida passe a ser válida de acordo com o padrão das redes. Há quem discorde. Há quem afirme que as redes sociais são uma espécie de veneno altamente danoso que vai matando aos poucos o que há de mais precioso, a vida. As experiências pessoais estão cada vez mais escassas, sendo assim substituídas por experiências superficiais coletivas, nas quais quem mais perde é quem publica.

      Segue um questionamento que fará você se posicionar em relação ao conteúdo do texto que acabara de ler: e aí, a sua vida real é compatível com o que você posta?

Lucrécia Dias de Araújo Nunes



domingo, 20 de maio de 2018

A COBERTA E O TRAVESSEIRO


Quando se encontraram, se encantaram. 
Dois anos se passaram, e então se reencontraram em um velório e cumprimentam-se, mas ele estava de mãos dadas com uma namorada. O rosto dele denunciava o interesse. Ela, ficou decepcionada ao vê-lo acompanhado, pensou: “Queria que terminasse com ela”. 
Dizem que palavras têm poder, não sei, mas que os pensamentos têm, isso tem. 
De repente o celular vibra, uma solicitação de amizade, o perfil sem foto, ela não tinha costume aceitar pessoas que não conhecesse e muito menos responder um “oi” no BP. 
Conversaram durante meses, ficaram e começaram a namorar. 
Aos poucos, ele foi a conquistando. Simples, humilde, insistente, foi se apossando de seu coração. Quando ela se deu conta, não podia mais falar sobre ele com ninguém, sem que a lágrima de emoção insistisse em cair, sem que seu coração sentisse não fosse aguentar aquele tsunami de sensações difíceis de explicar, difíceis de sentir.
Casaram-se. 
Dinheiro nunca foi o problema, mas como diz o povo: “era a solução”. 
Tinham poucos bens: pratos, bacias, talheres. Tinham uma coberta, um travesseiro, presentes de casamento. O dinheiro que ele ganhava, com tanto esforço, mal dava para pagar as contas que tinham ficado pelo meio do caminho, mas feliz sentia-se quando chegava em casa, quando ela ia cozinhar e ele ia lavar a louça. 
O tempo passou, e com ele foram problemas, contas e outras coisas que eles nem lembram mais, pois nem percebiam que talvez estivesse passando por uma situação difícil, estavam preocupados em rir da forma como o outro dançava nas festas.
2 anos se passaram. 
Passaram em frente a uma loja de cama, mesa e banho. Viram na vitrine, dois travesseiros Ortobom, perceberam, instantaneamente, que só tinham uma coberta e um travesseiro. 
Comparam. 
Ela não gostou muito, pois achava que duas cobertas e dois travesseiros os distanciariam não só na cama, mas na vida. 
Os dias e as noite se passaram. 
Nada entre eles mudou. 
Conseguiram comprar coisas que desejavam a muito tempo, mas isso não tinha tanta importância. 
Em uma madrugada ela descobriu o motivo de não ter havido mudanças entre eles. Estavam, os dois, dormindo enrolados na mesma coberta, aquela, a antiga, e com a cabeça no mesmo travesseiro, aquele, o antigo. Ela se perguntou onde estava a outra coberta e o outro travesseiro. Olhou para o chão, lá estava. 
Tesouro, o gato, aproveitou a ocasião, estava dormindo com a cabeça no travesseiro e semienrolado pela coberta. 
Ela pensou: “Pelo menos serviu para alguma coisa”.


Lucrécia Dias de Araújo Nunes

quinta-feira, 3 de maio de 2018

O FANTÁSTICO UNIVERSO DAS MÚSICAS SERTANEJAS

Quem nunca ouviu uma letra de uma música qualquer e se identificou? Acredito que todo mundo já passou por isso algum dia. Atualmente, essa situação anda um tanto que invertida, dado que as letras das músicas não dizem respeito a realidade da pessoa, mas por algum motivo, que eu, sinceramente, não sei o que é, as mesmas querem viver essa situação de alguma forma.

A geração atual pouco está interpretando as letras musicais, uma prova disso são músicas como: "Lei do retorno" de Mc Don Juan, fazer tanto sucesso.

Há o preconceito que todas ou, pelo menos, a maioria das músicas sertanejas são românticas. Mas uma prova que as músicas não estão sendo interpretadas da forma como deveria.

No ano de 2017, uma das músicas mais tocadas no Brasil foi "Vidinha de Balada", de Henrique e Juliano, a qual, a letra fala sobre um rapaz que quer ficar com uma moça de qualquer forma, mesmo ela não querendo, ela irá ficar com ele. Conclusão: a música é extremamente MACHISTA. Porém, muitas mulheres cantam até hoje. Achando a situação retratada na música, uma verdadeira declaração de amor.

Eu queria descobrir qual é a magia que essas letras têm para fazer tanta gente cantar e dançar mesmo não fazendo a menor questão de esconder a sua letra absurdamente ridícula.

Será que algum dia as músicas verdadeiramente bonitas irão voltar a fazer sucesso ou a situação tende a piorar?

terça-feira, 3 de abril de 2018

DECEPÇÕES AMOROSAS: QUE BOM TÊ-LAS!


De todas as coisas que eu agradeço em minha vida, as decepções amorosas estão no topo da lista.

Idealizar as coisas, pessoas e sentimentos é o meio que buscamos de não encararmos a realidade dos fatos, e acaba, de certa forma, se tornando mais perigoso do que possamos imaginar, visto que quando as nossas expectativas não são correspondidas, nos frustamos, sofremos e, muitas vezes, nos culpamos por uma coisa, que nunca existiu, ter dado errado. Pois já dizia o poeta (que amo) Augusto dos Anjos sobre esse amor idealizado: “Parece muito doce aquela cana. Descasco-a, provo-a, chupo-a... ilusão treda! O amor, poeta, é como a cana azeda, A toda a boca que o não prova engana.”

Às vezes, ao conversar com algumas pessoas sobre esse assunto, deparo-me com o repúdio de alguns pelo fato delas acharem que sou pessimista ou até que não acredito no amor, e realmente não acredito, pelo menos, nesse amor romântico idealizado que nos induzem a crer desde que nascemos e que, muitas vezes, passamos a vida procurando sem sucesso, e então, vemos que nossa vida “não valeu a pena” ou, pelo menos, não fomos bons/boas o bastante para aquela “pessoa perfeita” caísse de amores pela gente e vivesse o resto de sua vida em nossa função.

Sabe o que acredito? Acredito no amor próprio e no amor por escolha.

Agradeço as minhas decepções amorosas por terem me mostrado que a culpa não foi minha, nem deles, não foi de ninguém. Apenas acabou. Relacionamentos começam e terminam, e isso é normal. Isso me fez ver que a pessoa que eu mais amo no mundo sou eu, e se eu estiver em um relacionamento é porque faz bem, faz feliz a outra pessoa e a mim, e não por estar fantasiando um romance épico.

Quando você se ama verdadeiramente, você é capaz de reconhecer a suas falhas, ver que você não é perfeita/o, que ninguém é perfeito/a. Por fim, essa idealização a respeito da “pessoa perfeita” cai por terra e, sem máscaras, sem fantasias, sem falsidade, podemos olhar para a pessoa que está do nosso lado e dizer: “Eu quero você com seus defeitos, com suas qualidades, quero você de verdade”.

E se acabar, ótimo, pelo menos você viveu alguma coisa.

Lucrécia Dias

poema de Augusto dos Anjos disponível em: http://sanderlei.com.br/PT/Poesia/Augusto-dos-Anjos/Augusto-dos-Anjos-Eu-e-Outras-Poesias-037


sexta-feira, 30 de março de 2018

NÃO QUERIA SER HUMANA


Ontem, terminei a leitura de um livro que já vinha adiando faz tempo, “A menina que roubava livros”, de Markus Zusak. Há algum tempo tenho pensado muito sobre os seres humanos, mais especificamente, o que os seres humanos têm de bom, e não chegava a lugar algum, uma vez que a cada ponto positivo, ao comparar com outra espécie, não significava muita coisa, já que em relação a outras espécies, é quase imperceptível.

 Esse livro, particularmente, me fez pensar ainda mais sobre essa questão, e cheguei a uma conclusão: não queria ser humana.

Não queria ser humana quando vejo um pai abandonar um filho; não queria ser humana quando vejo um filho matar um pai; não queria ser humana quando vejo uma pessoa sendo preconceituosa com outra; não queria ser humana quando vejo pouquíssimas pessoas com interesses absurdos provocarem uma guerra, derramarem o sangue de inocentes e não terem o menor peso na consciência por isso; não queria ser humana quando vejo que o ser humano é o que menos pensa, menos ama, menos respeita, menos tolera. Falo isso não achando que nunca fiz nada disso ou, pelo menos, algo semelhante, até por que, segundo Rousseau, “O ser humano nasce bom, e a sociedade o corrompe”. 

O único problema é que essa sociedade é composta por seres humanos.

A imagem pode conter: Lucrécia Dias, sorrindo, selfie e close-up
Lucrécia Dias